A inteligência artificial (IA) tem vindo a revolucionar a indústria financeira, oferecendo novas oportunidades e desafios para os CFOs (Chief Financial Officers). 

Ao contrário de outras áreas de negócio, como os Recursos Humanos, os departamentos financeiros estão mais cautelosos na adopção destas novas tecnologias. Segundo o Gartner, a IA na área financeira está a crescer rapidamente, mas partindo de uma base muito reduzida. Além disso, apenas 30% dos inquiridos pelo Gartner (com funções financeiras) estão a liderar o processo de IA nas suas organizações

A IA tem vindo a transformar radicalmente a forma como as instituições financeiras operam, permitindo a automatização de processos, a análise avançada de dados e a personalização de serviços. Segundo o Gartner, a IA está a tornar-se uma peça fundamental para a inovação e a competitividade no setor financeiro, com o potencial de otimizar operações, reduzir custos, melhorar a tomada de decisões e impulsionar o crescimento.

Neste artigo, vamos identificar as quatro áreas críticas nas quais os CFOs se devem concentrar para uma estratégia sólida de implementação de IA na area financeira, com base em insights valiosos de fontes como a Gartner, a Forbes e o World Economic Forum.

Recrutar ou identificar internamente talento em IA

Os CFO de topo estão à procura da “geração IA” (talentos que estão a desenvolver, implementar ou defender a primeira vaga de soluções de IA) para preencher as funções que contribuem para implementações financeiras bem-sucedidas de IA.

O retorno financeiro da implementação de inteligência artificial na área financeira, ainda é baixo devido à insuficiência de competências nesta área e a relutância em muitos funcionários na sua adoção.

Para atrair este talento, é necessário ajustar as estratégias de recrutamento, investir em formação neste dominio para os atuais colaboradores e apostar em ferramentas que permitam criar um ambiente inovador, disruptivo e com uma enorme qualidade de dados financeiros.

Posicionar o departamento financeiro para o sucesso da IA

Para um gestor focado na produtividade, os outputs de IA, semelhantes aos dos humanos, apresentam benefícios óbvios. No entanto, os colaboradores percepcionam a IA na área financeira como uma ameaça aos seus empregos.

Uma pesquisa do Gartner revela que 70% dos colaboradores activos acreditam que a IA pode substituir pessoas, por isso não é surpreendente quando as novas soluções assentes em IA sejam rejeitadas ou falhem em ganhar tracção. Naturalmente, dar cegamente responsabilidades a máquinas é desaconselhável. Os processos apoiados por AI devem ser transparentes e permitir às pessoas observar e controlar sempre que necessário.

É assim crucial manter os humanos envolvidos (human in the loop) para que possam acompanhar e interromper sempre que necessário processos automatizados, tomando medidas que necessitam de critérios humanos. Além disso, os CFO devem posicionar a IA como um co-worker, que ajuda os colaboradores e que não é uma ameaça aos seus postos de trabalho.

As organizações que dão prioridade a soluções de IA que melhoram a produtividade dos colaboradores têm seis vezes mais probabilidades de ver as suas iniciativas de IA ter sucesso.

Liderar o debate na organização sobre o impacto da IA generativa

Atualmente existem muitas soluções de IA generativa, razão pela qual é fundamental considerar os seus riscos e impactos. Os CFO devem falar com a liderança tecnológica (CIO, CDO, CISO) para distinguir modas passageiras de soluções com futuro.

Deverão ser definidos casos de alinhados e accionáveis para a IA generativa. Os melhores casos de uso, reforçam os pontos fortes de uma empresa e protegem os seus pontos fracos. É crucial alinhar as capacidades da IA generativa com as estratégias e objectivos únicos de cada empresa para proporcionar valor que a diferencia dos seus concorrentes.

Finalmente, é necessário envolver a gestão de topo da empresa (funções jurídicas, RH, auditoria, segurança, entre outras funções de apoio empresarial relevantes) para o desenvolvimento do fio condutor e da governação e mitigação dos riscos da IA generativa:

  • Garantir uma utilização ética e reduzir a dependência excessiva de algoritmos que podem nem sempre ser exactos;
  • Minimizar o risco legal e de conformidade;
  • Estabelecer implementações transparentes e responsáveis;
  • Proteger contra danos à reputação e declarações financeiras incorrectas;
  • Verificar os resultados;
  • Compreender o potencial impacto na força de trabalho, na cultura da empresa e na formação necessária.

Fonte: Gartner

Casos de uso de IA na área financeira

O estudo da Gartner revela que 61% das organizações financeiras inquiridas não utilizam ainda IA, estão ainda na fase de planeamento da implementação ou não têm mesmo qualquer plano. Apenas 9% das empresas está a utilizar e a expandir a IA na area financeira, muito atrás de outras funções administrativas como RH, jurídico, imobiliário, TI ou compras. Os principais motivos são “outras prioridades” (a principal razão), “falta de capacidades técnicas”, “dados de baixa qualidade” e “casos de uso insuficientes”.

No entanto, a IA pode ser um facilitador crítico das “prioridades” dos departamentos financeiros, nomeadamente em matéria de planeamento financeiro ou eficiência de fechos e consolidações.

Tal é atestado por 64% das organizações financeiras que utilizam a IA que referem que o seu impacto correspondeu ou excedeu as suas expectativas.

Um dos casos de uso já em utilização nas plataformas de Automação da Uniksystem é  a automação de Contas a Pagar, que elimina totalmente a necessidade de entrada manual de dados nos ERP financeiros, com a extração de dados de documentos financeiros e a aplicação de regras automáticas de validação e aprovação.

Lições a retirar de quem lidera a mudança

Num outro documento, “4 AI Implementation Lessons From Leading Organizations” o Gartner identificou organizações que estão actualmente a liderar as melhores implementações de IA bem como as decisões tomadas para alcançar o sucesso. Essas empresas, em posição de liderança, preenchem os seguintes critérios:

  • Iniciativas de IA a evoluir tão ou mais rápido do que o antecipado;
  • Iniciativas de IA que estão a ter impacto ou mais impacto do que o antecipado;
  • Resultados da função financeira entregues (por ex. maior precisão, processos mais rápidos, etc.)
  • Resultados de negócios entregues (por ex. introdução de novos produtos, monetização, etc.)

São empresas que investiram em processos ou capacidades especificas e os experimentaram rapidamente, nomeadamente em 3 ações especificas:

1 – Comprar tecnologia com capacidades de IA para maior impacto

84% das empresas mais avançadas na adopção de IA na area financeira compraram tecnologia já preparada para o IA. A compra de software com capacidades de IA integradas permite às empresas experimentar mais facilmente a IA e aplicá-la a mais casos de uso financeiros. As equipas podem, com mais facilidade construir pilotos para problemas únicos do seu negócio.

Fonte: Gartner

Fonte: Gartner

2 – Experimentar cedo e profundamente os primeiros pilotos para criar eficiências

As organizações que lideram a adopção de IA na area financeira desenvolveram o dobro dos pilotos, durante o primeiro ano, do que o resto das organizações financeiras. Entre os benefícios de experimentar cedo, inclui-se o reforço de um ambiente de experimentação que permite aos departamentos considerar desenvolver novos projectos de IA noutras áreas e compreender que, estando a IA na sua infância, nem todos os pilotos vão ter sucesso. 

3 – Escolher um líder de IA analítico para transformar o negócio

A escolha da pessoa certa para liderar a IA na area financeira é fundamental. Estes profissionais devem ter fortes capacidades analíticas e background em dados. Preferem compreender as complexidades da IA num cenário de negócio do que compreender os processos financeiros tradicionais.

Fonte: Gartner

O que deve ser considerado na implementação de IA na area financeira

Ao contrário dos softwares de automação que podem fazer tarefas simples e rotineiras, a IA executa tarefas que historicamente só podiam ser tratadas por humanos. Isso posiciona a IA mais como um colega de trabalho do que outras tecnologias.

Mas, apesar das capacidades da IA, os departamentos financeiros têm responsabilidades únicas – como validar a integridade das demonstrações financeiras – que não podem ser delegadas a um algoritmo.

Ao construir processos orientados por IA na área financeira, os CFO têm que projectar soluções com total transparência para que os humanos com essas responsabilidades possam continuar totalmente informados e responsáveis.

Prepare-se para ficar impressionado

A Fortune contactou seis CFO e peritos da indústria para antecipar o que vai mudar na administração financeira das empresas com a IA. “Preparem-se para ficar impressionados", disse Michael Schrage, investigador do MIT à Fortune.

Dentro de um ano “veremos capacidade de Retrieval Augmentation Generation (RAG) a transformar os dashboards financeiros em motores de recomendações, “a disponibilizar informação, previsões e conselhos em tempo real para ajudar quem orçamenta e perspectiva o futuro a melhorar os seus números”.

Os directores financeiros devem trabalhar como se os processos transaccionais, os relatórios e a reconciliação fossem altamente inteligentes e predominantemente automatizados por IA e ML. Devem por isso perceber como é que os seus talentos vão interagir com estes sistemas para sinalizar os conjuntos de competências necessárias no futuro e para redefinir a estratégia de talentos.

Michael Tannenbaum, CFO-COO na Brex, antecipa 2024 será um ano de viragem para a IA, deixará de ser uma promessa. “A IA terá um impacto real nas operações comerciais. A IA é a solução perfeita para um macroambiente em que se procura reduzir custos, enquanto se torna os funcionários mais produtivos."

A sua organização vai ficar para trás?

por Ricardo Barros – Chief Customer Success Officer @Uniksystem

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